Com qual
idade
Um humano
Já pode?
Lavar calçada
Falar verdades
Tacar fogo
no lote
Com qual
idade
Um humano
Já pode?
Lavar calçada
Falar verdades
Tacar fogo
no lote
O máximo que consigo
É usar camisa de manga curta
Botões resistindo pressão
A barriga, na foto não aparece,
Escolho o foco
self do feijão
No banco, nada,
figuras na foto borrada
Filtros do insta no iphone
de barro para água
Pipoca-criança com fome
Em casa às vezes falta
Às vezes sobra
Alegrias também.
As crias a gente cria, nenem
Crianças crescem
Belém, Belém
Prestações de tudo
Risos, lamentos
Parcelas de tempo
Eu falo e muto
Compro na web
Vivendo fajuto.
Árvores no quintal balançam
O vento leva tudo pra fora
Ardósias, chapiscos, lembranças
Macacos minúsculos me informam
Que a vida acontece aqui dentro.
Rápido, rápido,
Tudo se acerta no final
No nó do último transe
Brigam cauda e animal
Gira, risca, simula,
Sem pretexto assume o crivo
Depois de voltas em seu eixo
Te premio com um motivo
Era uma vez uma relojoaria, que foi do avô, do pai e é do filho. O Espírito Santo ali batia cartão de ponto em um relógio 3 minutos, pontualmente, atrasado.
Ele, o Horácio, bendito fruto, reinava em seu ofício nobre de consertar relógios. Ele fazia tempo.
O correio passava entre dezessete e dezessete e meia, a quitandeira sempre na hora do almoço, entre doze e doze e cinco, todos clientes do filho do pai e neto do avô.
Horácio não usava relógio, de certo porque não precisaria, era só olhar para o lado, para cima ou para baixo, por toda a parede que lá pereciam, infindos contadores, marcando a cadência do dia. E era ele quem os dotava desse poder. Soberano, Horácio possuía as horas dos relógios.
Noite vinha, quando em casa, as horas tic-taqueavam na sua cabeça e, ele sentia-se estranho, tinha certeza do que antes desconfiava. Se em casa, sem relógios, era capaz de contar as horas dentro de si, era, muito provavelmente, ele quem as possuía e as distribuía.
Dia seguinte não abriu a loja, não consertou nada nem ninguém, mediu o tempo que gastava de casa até a loja, sem relógio, e os semáforos, sabia a vida de cada cor.Fez sair pão quentinho da padaria às quatro, e todo mundo parou de trabalhar às seis.
Sorriu e não contou pra ninguém a boa nova. Tic tac, o ônibus em cinco minutos. Tic tac a água do café em três. Tic, seis horas de sono, tac, banho em sete minutos.
Cumprimentava-se pelo seu primeiro aniversário de vinte e quatro horas contadas e agora queria abrir uma loja de despertadores.
tudo era ridiculamente simples
não passavam de nós inventados
para nos sentir brilhantes ao desfazê-los
Como se perde tempo! Como somos inventivos sem motivo!
E o deleite e gastá-lo com honras sofríveis?
vale mais do que ouro?
Quisera eu saber antes que tudo era domingo.
Dormiria os papeis sob
a porta
Coçava a buraco do meu futuro
Até o tudo depois se espreguiçar
Ah se desconfiasse que no fim era só um sopro,
A prévia de tudo desfigurar
Votaria em mais troça nos dias
Aumentaria o oco por onde tudo há de acabar
Caberemos
Todos
Se
Deitarmos.
Mas, pra quê, se suas pernas diminuem ao longo do caminho?
Quando crescer quero ser pequeno
Diferente de com quisera antes.
Agora interesso tomar veneno
Desses de ficar menor que os infantes
Esse dia, de pequeno flor,
Menorzinho do resto do mundo.
Esquecerei de ver altas-altezas e
Serei amor das coisas lá do fundo
Tadinho, pedaço pouco de gente,
Cabido em qualquer lugar que quer,
Sumindo, esvaindo, cisco volante,
Pra nascer um dia um grão,
giga - gigante!
Às vezes careço de ser invisível,
Tentar um pouquinho de fingimento
Pelo menos transolhado, que seja,
Desmirar das coisas de cimento
De vez eu consigo perto de tal
com as coisas passando por dentro,
mas não sei é desaparecer, de certo,
Não sou aparentado de ventos
Chateei de andar assim mostrado,
De ser domingo na vista de tudo.
Do tamanho de ser agachado
Podia ser a medida de todo mundo
Minuscular eu até consigo
De tão miúdo periga de pisoteio,
Mas se conseguisse desfigurar...
Ah, da vida tinha nenhum receio.
As verdades andam lado-a-lado
Os que divergem são os sentidos
Um entra mudo e o outro sai calado
Como se fossem pensamentos fugidos
O bom é quando as idéias se chocam
Por tão descombinadas que são
Um entra viva e pode sair morta
Numa mera questão de opinião
E desse embate é que tudo se nasce!
Há de haver julgamento para existir apelação
Só se move o mundo se for contrário
Só se tem movimento depois da inação
Paulo Márcio Fontes Terra, Paulinho quando criança, antes de ser pego três vezes em Janeiro, quando das águas, fugindo de casa pra pegar chuva no terreiro. A partir desse dia, sua alcunha era Truvão. Na boca dele o”Tru” demorava mais, com mais erres e us: “Trrruuu- vão”. Não sabia o futuro que ainda teria uma vozinha esgarniçada de Paulo-Paulinho, e que seu apelido não cairia tão bem num rapaz franzino e de fala encriançada.
De moço, Truvão ainda mantinha o gosto de tratar das plantas de fundo de quintal. Já fora de Pains há uns 10 anos, ele agora tratava de jardim de gente bacana na cidade. Lembrava sempre de cabeça a sua mãezinha Lira ralhando das matreirices verdes do rapazote “Paulim só sabe dar conta com pranta. Nem gente, nem menino, nem escola. É pranta”. Toda vez escutava a mãe por dentro da cachola, no trato dos jardins mais luzidos e deslocados, acompanhava um cheirinho de lenha queimada, terra trovejada, de pirueta molhada e de xingos de Lira, o que dava jeito num riso besta por dentro que teve quem passasse e se inquietasse “ê truvão, sonhando em pé?”.
Truvão se esquivava os olhos, e voltava pra terra rodiada de ardósia, de firulinha em volta, muito diferente do que viu de menino, terreiro, chuva de tardinha... e verde que nasce só pra nascer.
sublinhava os passos com o meio fio. rascunhava o dia com caminhos distintos, entrecortados por pernas bambas.
apagava os mapas se embrenhando na multidão.
borrava a vida com as chuvas no verão.
Enquanto a vida pinga
e empoça um pouco pra quem pisa,
Quer-se enxurrada
Feitas de pingo de cima
Tromba d’água fria!
Sequer enxugamos
Andamos desdenhando molhados
Até que somos lembrados
Glub glub glub
Devíamos ter pés-de-pato
Agora menino,
você se encolhe em feto,
as janelas em escuro pano
e torce para que caia do céu
uma chuvinhinha, pequena e fina,
de doer o meio do umbigo.
e espera não saber mais,
se noite ou dia,
que faz lá fora
a mesma toada
desde que gasta o mundo.
até tudo ficar claro
É tudo muito rápido. Os primeiros solavancos da caída em pouco dão lugar à dança suave, conduzida por braços de vento. Cambalhotas ensimesmadas. Durante o percurso, uma faixa de sol geralmente ilumina as pequenas nervuras, ainda há pouco tão pulsantes, mesmo que na costumeira estática. É fim de tarde e em algumas copas assovios conduzem o ritmo do ocaso. Por fim, o encontro com a grama e o repouso, depois do turbilhão.
o amarelo em queda.
um pingo de vida.
nian.pissolati
Sem verseio
converso
falsas vontades
Procuro vazar-te,
sulco,
de veleidades
nos olhos,
na crista
de teus segredos
De punhais
em punho encontro:
Um par de olhos já vazados
Um oco vento
que me sopra
"chegaste atrasado"
Lucas dos Anjos
- a melhor maneira de cair é deitado
o melhor ver
está no escuro
a maior fala é a dos olhares. depois do
abraço
e o calor...
está às três da manhã, envolvido e em repouso,
tomando guarda
enquanto o sol não vem
nian.pissolati
Cores idas
Coloridas
que agora
Furtam outras
menos cinzas
Em uma aquarela
duotone.
De tudo que o amor é feito
De posses sem tato
De fatos, de leito
De saciedade do peito
De poses, ilusão.
De juras, precaução
De consumo, resignação
De fins, projeção
De falência, perfeição
De imprecisão
De que é feito?
Aceitação...
muda
mundo
mudo
(o)
mundo
mando
o medo
pra
modo-mudo
manso
letra muita em papel branco
letra pouca quando fora
dentro
em
pouco
turbilhão
nota longa para um começo
breve
melodia em tempos de construção
estruturas
(re) caídas
canto o canto
cata o canto
quanto mais,
encanto.
uma mala de desutensílios empoeirados.
e uma caixinha extravagante.
Guardando:
um papel em branco.
dois lápis.
e duas ou três idéias.
*nian.pissolati
eu vendo panos quentes!
verdes e pardos!
e molhados.
eu vendo planos rentes!
planificados e retalhados.
eu vendo planos à prazo
com juras e correção.
eu vendo por anos
o cheio e o vazio
a reta e a curva.
sem desconto.
*nian.pissolati