quinta-feira, dezembro 04, 2008
Três Boleros
Regalou-me drinks tropicais
E aqueceu-me o vão das coxas
Bafejando sujeiras nominais
Apertou-me forte a cintura
Conduziu-me riscando o salão
Por três boleros, pegou-me,
E roguei-te comunhão
Fulminou-me com seus olhares
Raptou-me a companhia
Perfumou-me o dorso, colares,
Outro drink oferecia
Sucumbi-me aos seus intentos
Assenti que partíssemos breve
Despida no quarto quinhentos
Adormeci três boleros mais leve.
quinta-feira, novembro 27, 2008
Ginástica Olímpica
na sua ginástica olímpica,
Menina sem gravidade,
Infante com metade que tudo indica
Toda feita de amenidade
Toda sorte para você
no seu primeiro tombo,
Pequenina dos ares,
A queda guarda consigo
Amuleto da prosperidade
Muita sorte para você
na sua cama elástica,
Criança desperta,
Esticando o sono com a sua borracha
Cair no futuro é o que te resta.
Para minha querida Júlia Raposo
quinta-feira, outubro 23, 2008
Poema mentira
Minuto tardio
Poema mentira
Medida esguia
Poema mentira
Pequena cidade
Poema mentira
Inteira fatia
Poema mentira
Pouca idade
Poema mentira
Cabeça vazia
Poema mentira
Poema mentira
Poema mentira
Tão repetido que é
Pura verdade
terça-feira, setembro 30, 2008
A casa do pai
Tu és incluso e eu expectador atento e invasivo, querendo ao seu lado estar e cooptá-lo ao meu amor.
No seu duo, resguardado de interferências de toda sorte, cirandeio por fora em giro contrário - por erro e não por opção - acenando com os meus braços, querendo com as mãos tocar-vos dois, inventando um trio torto, escaleno, que há de seguir pra sempre com o lado que me cabe virado para trás, mas belo pelas duas arestas soberanas. Ainda sim me orgulho e me comprazo por essa harmonia estranha.
Não te tenho em mim, tampouco me conheces, mas me tens ao todo, dos pés a cabeça, sobremaneira esta, que também te espera, gera e se modifica por ti.
Pois sim, tens duas casas, uma de ventre e outra de vento. Uma em que te moras e outra que mora em ti.
terça-feira, agosto 26, 2008
A Janela do Mundo
é pintada de preto
o pintor tem na mão
a paisagem de perto
um futuro de medo
e um punhado de pão
A janela do mundo
E quebrada de vidro
Um pedra na mão
É fechada em cimento
Pra rajada de vento
É a morada do cão
A janela do mundo
A moldura de tudo
Só buraco profundo
Que me tapa a visão.
terça-feira, agosto 19, 2008
Estaca
Que sustentávamos toda carne do mundo
nos delongos de nossos caminhos
Pobres de nós, tão gravetos,
Que ao peso de uma folha ou estação
Sucumbimos à gravidade de estar ali.
Desnudos de toda companhia
Tirante o chão
Não cabemos na agonia
De ser fracasso de sustentação.
quinta-feira, junho 26, 2008
Glitch God
espírito
ueM
oitirípse
my spirit
descobriu
uma
uirbocsed
discovered
amu
coisa
something
sem querer:
asioc
:rereuq mes
unintentionally
- "Deus é Shuffle"
quarta-feira, junho 11, 2008
Circo-Circuito
Rápido, rápido,
Tudo se acerta no final
No nó do último transe
Brigam cauda e animal
Gira, risca, simula,
Sem pretexto assume o crivo
Depois de voltas em seu eixo
Te premio com um motivo
terça-feira, março 11, 2008
TIC TAC
Era uma vez uma relojoaria, que foi do avô, do pai e é do filho. O Espírito Santo ali batia cartão de ponto em um relógio 3 minutos, pontualmente, atrasado.
Ele, o Horácio, bendito fruto, reinava em seu ofício nobre de consertar relógios. Ele fazia tempo.
O correio passava entre dezessete e dezessete e meia, a quitandeira sempre na hora do almoço, entre doze e doze e cinco, todos clientes do filho do pai e neto do avô.
Horácio não usava relógio, de certo porque não precisaria, era só olhar para o lado, para cima ou para baixo, por toda a parede que lá pereciam, infindos contadores, marcando a cadência do dia. E era ele quem os dotava desse poder. Soberano, Horácio possuía as horas dos relógios.
Noite vinha, quando em casa, as horas tic-taqueavam na sua cabeça e, ele sentia-se estranho, tinha certeza do que antes desconfiava. Se em casa, sem relógios, era capaz de contar as horas dentro de si, era, muito provavelmente, ele quem as possuía e as distribuía.
Dia seguinte não abriu a loja, não consertou nada nem ninguém, mediu o tempo que gastava de casa até a loja, sem relógio, e os semáforos, sabia a vida de cada cor.Fez sair pão quentinho da padaria às quatro, e todo mundo parou de trabalhar às seis.
Sorriu e não contou pra ninguém a boa nova. Tic tac, o ônibus em cinco minutos. Tic tac a água do café em três. Tic, seis horas de sono, tac, banho em sete minutos.
Cumprimentava-se pelo seu primeiro aniversário de vinte e quatro horas contadas e agora queria abrir uma loja de despertadores.
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
obituário de domingo
tudo era ridiculamente simples
não passavam de nós inventados
para nos sentir brilhantes ao desfazê-los
Como se perde tempo! Como somos inventivos sem motivo!
E o deleite e gastá-lo com honras sofríveis?
vale mais do que ouro?
Quisera eu saber antes que tudo era domingo.
Dormiria os papeis sob
a porta
Coçava a buraco do meu futuro
Até o tudo depois se espreguiçar
Ah se desconfiasse que no fim era só um sopro,
A prévia de tudo desfigurar
Votaria em mais troça nos dias
Aumentaria o oco por onde tudo há de acabar
Caberemos
Todos
Se
Deitarmos.
Mas, pra quê, se suas pernas diminuem ao longo do caminho?
sexta-feira, janeiro 25, 2008
MINIgiga
Quando crescer quero ser pequeno
Diferente de com quisera antes.
Agora interesso tomar veneno
Desses de ficar menor que os infantes
Esse dia, de pequeno flor,
Menorzinho do resto do mundo.
Esquecerei de ver altas-altezas e
Serei amor das coisas lá do fundo
Tadinho, pedaço pouco de gente,
Cabido em qualquer lugar que quer,
Sumindo, esvaindo, cisco volante,
Pra nascer um dia um grão,
giga - gigante!