terça-feira, março 11, 2008

TIC TAC

Era uma vez uma relojoaria, que foi do avô, do pai e é do filho. O Espírito Santo ali batia cartão de ponto em um relógio 3 minutos, pontualmente, atrasado.

Ele, o Horácio, bendito fruto, reinava em seu ofício nobre de consertar relógios. Ele fazia tempo.

O correio passava entre dezessete e dezessete e meia, a quitandeira sempre na hora do almoço, entre doze e doze e cinco, todos clientes do filho do pai e neto do avô.

Horácio não usava relógio, de certo porque não precisaria, era só olhar para o lado, para cima ou para baixo, por toda a parede que lá pereciam, infindos contadores, marcando a cadência do dia. E era ele quem os dotava desse poder. Soberano, Horácio possuía as horas dos relógios.

Noite vinha, quando em casa, as horas tic-taqueavam na sua cabeça e, ele sentia-se estranho, tinha certeza do que antes desconfiava. Se em casa, sem relógios, era capaz de contar as horas dentro de si, era, muito provavelmente, ele quem as possuía e as distribuía. Fato.

Dia seguinte não abriu a loja, não consertou nada nem ninguém, mediu o tempo que gastava de casa até a loja, sem relógio, e os semáforos, sabia a vida de cada cor.Fez sair pão quentinho da padaria às quatro, e todo mundo parou de trabalhar às seis.

Sorriu e não contou pra ninguém a boa nova. Tic tac, o ônibus em cinco minutos. Tic tac a água do café em três. Tic, seis horas de sono, tac, banho em sete minutos.

Cumprimentava-se pelo seu primeiro aniversário de vinte e quatro horas contadas e agora queria abrir uma loja de despertadores.