quinta-feira, maio 07, 2009

Inventando Letícia

Quanta falta faz Letícia.

Já não sinto mais seu cheiro impregnando meus cabelos, fazendo-me reviver todo mistério de toda noite. Dela, diferente de outrora, só tenho notícias vagas sobre tudo que já supunha. Como farei, então, para que em novo instante ela se chegue bem perto e se ofereça em carne pura, sorrisos largos e ironias? Ela ali, perfeita, em foco, inventando as belezas para cada novo rapaz desavisado, florescendo as coisas que toca.

Letícia sempre foi perigo. Desses alarmes que sempre queremos que nos denuncie, que remonte a natureza impulsiva da juventude que já nem sei se dela pertenço. Letícia era nuvem. Sempre caminhando e assumindo formas diversas, etéreas e todas inalcançáveis. Letícia não era vento, era brisa, uma brisa quente e úmida, como se existisse uma Europa tropical. Aos borrões negros os seus olhos percorriam o mundo angariando um sem número de novos devotos. Futuros mortos de fome e de sede a quem a saudade ainda há de abater como me acomete nesse instante.

Fecho os olhos bem forte para vê-la de novo. Sei que a invento mais que metade, a real, a outra quase metade, olharia para meus olhos apertados, passaria as mãos em meu queixo, sussurraria calores em meus ouvidos, indo-se com um olhar saliente que se estende e estica enquanto ela se perde na escuridão, onde a saudade faz a curva e deslizam-se as invenções.