segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Mármore

Você não sente nada
Nada, dente na carne, 
Ou um sopro na alma
Nada, você não sente.

Você não move, está 
Pedra, fria e lápide
Um lapso da sorte
Pulsão de morte, virá

Te acompanho, não me movo
Não me atrevo viver, triste inverno 
Confio no seu enlaço e sucumbo
Um baile sem música no inferno

Assim nosso romance
Diariamente se repete
Casa, trabalho, um lance
Festejamos o tédio, entende?









Clareou


Para Clarisse Raposo

Quando ela veio eu nada era ainda
Não éramos gente, meninos
Fome de tudo, crescemos ali
Dividindo todos os caminhos.

Crescíamos merecendo tudo, 
Merenda, oferenda, fazenda, 
Mas ganhávamos o mesmo
Um beijo e cada coisa horrenda.

Grandes, nossas faltas gritavam
Repetimos erros no espelho
Afeto, ódio e músicas jorravam
Sabíamos de cor amar de joelhos

Marcamos uns aos outros
Olha nela o que eu fiz brotar!
Dentro pode ver as marcas
Um paradoxo multifamiliar

Desenhei para ela uma canção
éramos feito do mesmo verso
Entendia cada tijolo da construção 
Essa casa nova: que ser complexo.

Clareou: escolhi só viver feliz
Esqueci tudo em volta
Crescemos tortos, copia e matriz
Estamos aqui: o que mais importa?

Feliz aniversário, lac!

terça-feira, fevereiro 02, 2016

Inocente

Acorda cedo, madrugadinha
O cão late chorando ser gente
E gente o que faz?
A essa hora só sono, rapaz!

De manhã cedo nada termina
O pombo continua olhando de cima
cada coisa besta se assanha
Até a criança doente se anima

O pombo queira ser um cão
O cão, gente. 
E a criança coitada, crente
Que nada importante se acaba.