quinta-feira, agosto 25, 2016

Quadro

O máximo que consigo

É usar camisa de manga curta

Botões resistindo pressão

A barriga, na foto não aparece, 

Escolho o foco

self do feijão

 

No banco, nada,

figuras na foto borrada

Filtros do insta no iphone

de barro para água

Pipoca-criança com fome

 

Em casa às vezes falta

Às vezes sobra

Alegrias também.

As crias a gente cria, nenem

Crianças crescem

Belém, Belém

 

Prestações de tudo

Risos, lamentos 

Parcelas de tempo

Eu falo e muto

Compro na web

Vivendo fajuto.


Árvores no quintal balançam 

O vento leva tudo pra fora

Ardósias, chapiscos, lembranças

Macacos minúsculos me informam

Que a vida acontece aqui dentro.

sexta-feira, junho 10, 2016

Olho por olho

Nasci de olho fechado, tio,
Pelado, vivo de tudo, descansado
Um marco zero, às pampa, nos peito,
Nas anca
Esperando ser acordado

Um dia abri os olhos e vi
Não entendi, que cresci
Mas em volta nada, 
O mundo diminuía, eu sabia
Que um dia, essa terra ficaria apertada
Tanta gente, ateu e crente, 
Preto e branco, rico e pobre
Mas só pros nobre, pai,
A vida é diferente?

Eu fortalecia, de quebrada eu ia
De bike nas praça, 
ia achando graça em tudo que via
As minas colava, eu ria
Bola na rua, as pipa
Até chegar as polícia,
As dura, as noite na delegacia.

Eu com os olhos já
bem abertos, Sabia
Que na vida de correria 
era rei quem sabia andar
Inspira, expira, solta o ar
Chinelo, sapatinho
Igual Martinho, devagarinho... devagar 

De olho aberto irmão, difícil ver
fechando e mente então
Pode saber
Perde o controle, jão, pra outro ter,
Vira boneco, irmão, 
sem querer

Cresci, a mente muito mais 
que os olhos abri
Queriam um fiel virei o cão,
Prometiam o céu, os barraco
Eu vi as biqueira, as boca, os avião.
E vi as garganta aberta e os caco
Vi tanta coisa, que cegou a visão.

Vários parceiros de infância, 
todo mundo parente da violência 
Na quebrada olhos arregalados 
Tipo laranja mecânica 
Os rolé nas madrugada
Só fumaça, parceria e consciência.

Os olhos já nem abria
Era trampo, escola e livraria
Os show de rap, as batalha,
As conta todas na cola
Na maior responsa, várias correria

Era assim que fluxo corria
Num piscar de olhos, via
Mil parceiros e vários filha da puta
Para um dia de glória
A vida inteira na luta.





















 














sexta-feira, maio 20, 2016

Tríntage

Outro dia tive um sonho
Tava bem barbeado
De fato muito estranho
Com um bigode desenhado

Pincel de cerda e creme bozzano
Lâmina bic sem lubrificar
Phebo e eucalipto no banho
Cheirei rapé para arrematar.

Mocassim preto de fivela
Lustrado de cera e flanela
Meia no pé até a canela
Camisa branca e calça reta.

Fui ao banco e à lotérica
Fumei na fila um cigarro
Pisquei, sorrindo para a Érica
Caixa do banco número 4.

Pedi bença na chegada,
Na entrada me benzi,
Na saída falei licença,
Acordei e não entendi.

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Mármore

Você não sente nada
Nada, dente na carne, 
Ou um sopro na alma
Nada, você não sente.

Você não move, está 
Pedra, fria e lápide
Um lapso da sorte
Pulsão de morte, virá

Te acompanho, não me movo
Não me atrevo viver, triste inverno 
Confio no seu enlaço e sucumbo
Um baile sem música no inferno

Assim nosso romance
Diariamente se repete
Casa, trabalho, um lance
Festejamos o tédio, entende?









Clareou


Para Clarisse Raposo

Quando ela veio eu nada era ainda
Não éramos gente, meninos
Fome de tudo, crescemos ali
Dividindo todos os caminhos.

Crescíamos merecendo tudo, 
Merenda, oferenda, fazenda, 
Mas ganhávamos o mesmo
Um beijo e cada coisa horrenda.

Grandes, nossas faltas gritavam
Repetimos erros no espelho
Afeto, ódio e músicas jorravam
Sabíamos de cor amar de joelhos

Marcamos uns aos outros
Olha nela o que eu fiz brotar!
Dentro pode ver as marcas
Um paradoxo multifamiliar

Desenhei para ela uma canção
éramos feito do mesmo verso
Entendia cada tijolo da construção 
Essa casa nova: que ser complexo.

Clareou: escolhi só viver feliz
Esqueci tudo em volta
Crescemos tortos, copia e matriz
Estamos aqui: o que mais importa?

Feliz aniversário, lac!

terça-feira, fevereiro 02, 2016

Inocente

Acorda cedo, madrugadinha
O cão late chorando ser gente
E gente o que faz?
A essa hora só sono, rapaz!

De manhã cedo nada termina
O pombo continua olhando de cima
cada coisa besta se assanha
Até a criança doente se anima

O pombo queira ser um cão
O cão, gente. 
E a criança coitada, crente
Que nada importante se acaba.