terça-feira, maio 30, 2006

do que não deveria acontecer

ali,
entre petalas engolidas, quando, na verdade, deveriam estar voando-se.
entre perfumes inacabados, guardados à meia luz, que perdiam o poder libertar-se e encontrar-se no escancarar da vida.

e o que restou:

'amanha, às quatro, te encontro às cinco'.

*nian.pissolati.

quarta-feira, maio 17, 2006

monólogo

enquanto manchava o cigarro com seu batom vermelho e soltava a fumaça penosamente olhou para seus olhos e mostrando pelos seus todo o abismo em que começava a cair, falou numa voz firme:

‘o limiar entre a distância inalcançável e o encontro é o toque’.

e na realidade ele se limitou a apenas ouvir som firme de sua voz e todo a sua beleza. quanto ao que ela dissera não fazia a mínima idéia. e nem queria fazer. depois que o silencio se tornou confortável, ela não suportou e num gesto que desnudava seu abismo (ela fechou os olhos por alguns segundos) disse, ainda com voz firme.

‘agora era preciso sentir o gosto amargo de um café’.

nesse momento sua paciência começou a se esgotar e sentindo todo a queda que ela começava a lhe proporcionar, ou antes, a vertigem que a queda poderia lhe causar, disse com a voz seca:

‘da sua vida você quer um romance de virginia wolf ou um filme muito triste. até para sofrer você é clichê.

‘me diga, quanto você pagaria por um sorriso sincero?’

dessa vez ele nem se prestou a levantar a cabeça.

nesse momento ela abriu os olhos e viu que seu abismo era dolorido demais para que ele entendesse ou quisesse entender. e que talvez nem ela entendesse. ou que a dor era grande demais para que pudesse ser compartilhada com alguém. ainda mais por ele.

‘o seu problema é que você não tem coragem para viver um clichê’.

sua voz ainda era firme.

*nian.pissolati.