segunda-feira, dezembro 18, 2006

Ode Oso

Oh, grão-mestres das linhas tortas
tecei com versos agora o que,
em tempos vindouros,
será nosso mantra
forjai com mãos agudas
o futuro das letras
que embalará a humanidade
com notas sem tempo

Arrancai da história adjetivos inomináveis
sobre o que antes era pó
é arte e não se explica

do sangue que tinge cada verso
da dor incompreendida dessa página
não se preocupe
ainda estamos aqui
e se não nos querem
é mais uma força que engolimos
é de gritos que a dor se constrói
a vanguarda mal quista
pelo simples fato da ignorância alheia

os esconjurados
os inacabados
inabaláveis
baila, potranca
baila
são poucos os que entendem seu rebolar

eu rodo
tu rodas
eles não rodam
mas ainda sim
nosso funk sujo suja as salas deles

Eu quero é o suor do vai e vem
porque sexo bem feito é arte
já dizia os baianos
"pau que nasce torto, nunca se endireita"
Nada de direita.
Só esquerda.
a beleza esquerda monotêtica de nossos versos

Agora, gladiadores com lápis,
a briga é de peixe pequeno
voscos moram em outros tempos
onde a cabrita berra e a potranca late

No futuro, mestres que bebiam daquela fonte
a fonte maldita: Vila da Penha
onde o baixinho tão grande nasceu
pernas tortas de dar pena

penha
penhasco
penca
Pensilvânia
pan-drive
penteadeira
perneta
percapita
pentelho
tantos pens
incompreensíveis pens.
que pena

A vocês, pais dos “v”
resta um alfabeto em possibilidades
resta o rosto de uma rena
Num reino Romeno em Roma
e range, arranha essa réstia de “v”
fuça
reles funça
fuça ate minh'alma falar chega
relando.fungando.
rele roto da roça

E de palco é a sua sina
de luzes menores que ofuscarão
leva o resto das menina
um fusca e um caminhão

Incomensuráveis seus feitos
És par por Deus eleito
Estrofes chofres sobre chifres
Acima só governador e prefeito

Oh máquinas engenhosas
Movidas a bolhas de sabão
Apreciadoras da tez sebosa
Adoradoras da água remosa
de Sete Lagoas e região

você viu?
o que?
o ganso.
o que?
o ganso.
que ganso?
o ganso!
o ganso?
é, o ganso.
ah, o ganso!

Fonte alva de inspiração
É teu nosso enlevo
É pro Romário e caldo xanão
Que dedicamos esse enredo


De Rô e Mário


3º Lugar
Prêmio Barbie de BRONZE na Bienal dos Piores Poemas 5

"Ode Oso"
Autor: De Rô e Mário
http://www.oficcinamultimedia.com.br/vencedoresbpp5.htm

quarta-feira, dezembro 06, 2006

sub verter

escrevo
sub versos
que inundam as linhas tortas
de nossos anos
para ver até que ponto sei verter
de nossos passos
um encontro

*nian.pissolati

quarta-feira, novembro 22, 2006

VOLHO VIOLADO

Quem avista o volho
voa sem volta
e vai avante
Violeta
vem volante
Vaga-lume.
em verdes vales
vários viscos
vagos vapores

quem avista
voa
onde há vista
vamos
à vertente prata
da vitória inacabada

vamos além.

Volta,vilão da várzea
E vermelha vulva do vaivém
Visto vacas no vaticano
Com velho violão da vitória

Valha-me!
Vão das vozes vencidas
o ventríloquo vendido
vestindo um víntage vitoriano
aveludado ou de viscose Vicunha volta a dizer:
“Vá com a valise para Vladvostok,
Na volta da viagem, compre um vinho em Viena,
visto que o vermute está velho”.

Vaiando vadias vorazes
variado verso velado
vermes agora vomitam-no

Vodka vencida.
Vejo um vulto voraz: vovó de vestido vermelho
na varanda de veraneio em Valença
vendida pelo vaiado volante do Vasco:
Valdir da Verruga

Vermífugo em vasos sanguíneos
vai vacilando em vezes várias
até avacalhar com a vida

Na virada, perto da van, vende-se vatapá
Ali onde visita veagan é viado
Dá vontade de violar a vulva de Vanessa vinte vezes
Como vento nas ventosas das vestais

Em vagem
Em vão

Vendo volks seis válvulas sem volante

e vice-versa.
Vixe!





Vucas vos Vanjos e Vian Vissolati

domingo, novembro 19, 2006

Um pra lá e um pra cá

Era de quadris meu flagelo,
Tantos ésses e mil cedilhas.
Era outra Era
De outras massas e sapatilhas

Meu pulso saltitava em desafio
Num balé descompassado
Na faca, o andar no fio,
Promessas soltas num salão riscado

No desenrolar dos medos
Um presságio, uma insana euforia!
Um mais-que-perfeito solo
Trágica coreografia

Era valsada nossa côrte
Um Pas de Deux sem lugar
Balé de desencontros
Um pra lá e um pra cá

Era de Dó a sinfonia
Que de lá regia inquietos e fugidios
Era desafinado esse silêncio
Movimentos (a dois) em agonia.

Era a véspera do encontro
Sentido há versos em agouro
Doçuras e leveza vencidas
Por um tanger de cortar couro

Era de resignação o tal final
Era sem futuro nosso par
Era, de fato, mais outra era
Uma vez em casa, descalçar.



E agora tudo dançamos:



Nada machuca tanto quanto não tirar os sapatos ...
Nada como um dia e um passo depois do outro.


Lucas dos Anjos

terça-feira, outubro 24, 2006

vinte e dois do dez

- ...
- ...
- oi.
- ...
- sem palavras?
- você é inacreditável. não é possível que você foi capaz de fazer isso.
- sabe qual o problema? desde o começo sempre foi tudo verdade..
- ,,, é, infelizmente você tem razão, é realmente tudo mentira.
- mas são muitas verdades. e eu me perdi nessas mentiras.
- não me venha com desculpas tão rasas.
- mas essa é mais uma dessas mentiras. minhas verdades...
- quais?! você não conhece nenhuma.
- e é exatamente por isso que eu não estava aqui.
- mas você não tinha esse direito.
- eu sei.
- foram algumas tantas ligações. eu só precisava de um oi.
- mas e se ele fosse falso?
- a verdade de sua falsidade me bastaria.
- mas seria muito pouco.
- não me venha com essas pequenezas dos vinte anos. eu não tenho tempo para tanta futilidade.
- futilidade? então eu não entendo mais nada.
- lá vem você mais uma vez. olha, pra começo de conversa, seus vinte anos não são eternos. e não adianta você se fazer de desentendido.
- ...
- era só um oi.
- oi...
- e suas preocupações? elas existem?
- incontáveis...
- mesmo as que importam?
- claro!
- e ainda assim você não foi capaz de dizer um oi.
- o problema é que desde o princípio, foi tudo mentira.
- será? Nestes poucos dias, o que você me provou foi uma série de sustentações em verdades inventadas, que no fundo, você não tem nem idéia do que sejam.
- já, disse, desde o começo foi tudo verdade. tenho certeza.
- não acredito em suas mentiras.
- e há algo que eu possa fazer?
- essa eu me recuso a responder.
- vinte anos?
- vinte anos.
- não era para ser tão triste. foram poucos dias. eu ainda poderia...
- erros grandes não têm tempo.
- me desculpa...
- ...
- ...
- talvez alguns anos de mentiras te façam bem...
- meu medo é que essas mentiras me façam mal. não quero acreditar em tantas verdades...
- seu erro é temer o mal...
- e se depois desses anos eu descobrir que realmente é tudo mentira?
- não se preocupe. é tudo verdade.
- verdade?
- mentira.

*nian.pissolati

segunda-feira, outubro 09, 2006

2 em 1

Cada feito, um sonho a menos.
Cada descoberta, uma frustração.
Sonhar mais que fazer
são duas coisas que perdemos

Cada escolha, uma devemos.
Cada trecho, uma só volta.
Andar mais que escolher
são duas coisas que nos falta

Cada sim, um não compensa.
Cada aceite, uma negação.
Recuar mais que oferecer
são duas coisas sem solução



e quando o sonho escolhe o não...




Lucas dos Anjos

quarta-feira, agosto 16, 2006

Cicatriz.

Com o corte primeiro da dor
Das lâminas despudoradas da vida
Com o talho sofrido sem cor
Despedaços em série mais que marcados

Tangidos gemidos no ar
Do corte na carne em calor
Da força cantada a vapor
Em mortes morridas de amor

*nian.pissolati

domingo, julho 02, 2006

Tríade

Dou-te de sobressalto e sem hesitar
três exemplos perdidos de coisas inteiras:

A partida

A estrada

A despedida

Dou-te de incauto a titubear
três exemplos achados de coisas partidas:

A volta

O caminho

E um bocado de coisas esquecidas





Lucas dos Anjos

domingo, junho 04, 2006

todo tolo

Um livro curto, aberto pelas mãos sujas
e que em suas páginas
se maculam ainda mais a cada salivada em salpico à ponta dos dedos.

Chaga exposta ao tempo
tocada aos berros por uma voz que não a minha.
Por um coro que disserta acerca do que desconheço.

Lixo destapado com asco.
E cada traste dele retirado ganha um adjetivo dos vis
dado pela palavra de quem prezo.

Porta aberta que exala um torpor de náusea
por um pedaço mal acabado de corpo inerte
que nada faz além de não fazer.

Um caco em grades, um réu cativo
por intenções em desacertos, convicções vertiginosamente imutáveis
pela troça das horas.

Um saco locupleto por um engano e uma desistência
e ainda vazio.
Até de tolices.


Lucas dos Anjos

terça-feira, maio 30, 2006

do que não deveria acontecer

ali,
entre petalas engolidas, quando, na verdade, deveriam estar voando-se.
entre perfumes inacabados, guardados à meia luz, que perdiam o poder libertar-se e encontrar-se no escancarar da vida.

e o que restou:

'amanha, às quatro, te encontro às cinco'.

*nian.pissolati.

quarta-feira, maio 17, 2006

monólogo

enquanto manchava o cigarro com seu batom vermelho e soltava a fumaça penosamente olhou para seus olhos e mostrando pelos seus todo o abismo em que começava a cair, falou numa voz firme:

‘o limiar entre a distância inalcançável e o encontro é o toque’.

e na realidade ele se limitou a apenas ouvir som firme de sua voz e todo a sua beleza. quanto ao que ela dissera não fazia a mínima idéia. e nem queria fazer. depois que o silencio se tornou confortável, ela não suportou e num gesto que desnudava seu abismo (ela fechou os olhos por alguns segundos) disse, ainda com voz firme.

‘agora era preciso sentir o gosto amargo de um café’.

nesse momento sua paciência começou a se esgotar e sentindo todo a queda que ela começava a lhe proporcionar, ou antes, a vertigem que a queda poderia lhe causar, disse com a voz seca:

‘da sua vida você quer um romance de virginia wolf ou um filme muito triste. até para sofrer você é clichê.

‘me diga, quanto você pagaria por um sorriso sincero?’

dessa vez ele nem se prestou a levantar a cabeça.

nesse momento ela abriu os olhos e viu que seu abismo era dolorido demais para que ele entendesse ou quisesse entender. e que talvez nem ela entendesse. ou que a dor era grande demais para que pudesse ser compartilhada com alguém. ainda mais por ele.

‘o seu problema é que você não tem coragem para viver um clichê’.

sua voz ainda era firme.

*nian.pissolati.

sábado, abril 22, 2006

Encontro

Naquele dia ela não acordou. E talvez por isso preferiu não olhar para o relógio, que naquele instante só poderia marcar onze da noite. E o único movimento que pôde fazer, foi, aproveitando-se do lusco-fusco do quarto, ver no espelho traços que naquele momento lembravam-lhe libélulas violetas que numa longínqua tarde de outono pensara ter visto nos olhos de uma senhora triste, num café triste. E como não poderia deixar de ser, ela só pode fazer o que lhe cabia neste dias reais. Pintou os lábios que até então eram virgens daquele rubro devasso que a noite devassa lhe exigia. E pensou o quão pura era sua devassidão. E aproveitou-se que o único intruso àquela hora era um fio pardo de luz amarela que vinha do poste da rua e penteou os cabelos como nunca ousara. E entre as sombras negras que lhe confundiam o reflexo, tirou um retrato com os próprios olhos daquela moldura que acabara de fazer. E continuando o ritual-sonâmbulo-do-real despiu-se, mas dessa vez acendeu o abajour vermelho que mantinha no criado mudo e foi realmente bonito decorar seu próprio corpo rubro, e suas perfeitas imperfeições. Quis ligar a vitrola e ouvir uma valsa, mas logo percebeu que assim fugiria das regras, e ela mesma se pôs a cantarolar sua valsa predileta, que, obviamente, ela inventava durante seu baile. E foi a primeira vez que percebeu que a leveza não era assim algo tão sofrível, como insistiam em lhe provar. E depois de ter um breve contato com o não-peso, sentiu que era hora de sentir as arranhaduras do chão, para que não se contentasse tanto com o ar. E sentou-se novamente diante do espelho, que insistia em lhe apresentar libélulas violetas. Sentiu-se então apta a continuar seu sonho e pensar nos três amores de sua vida. Viu o primeiro e após uma lágrima curta, sem muito sabor, e até mesmo inadequada, que as sombras do reflexo convenientemente ocultaram, resolveu guardá-lo junto às suas tantas promessas na terceira gaveta de sua cômoda, pois pensou que dali há alguns anos, só poderia achar graça das lágrimas gastas com frases feitas por alguém que não teria nem a coragem de sonhar com o mundo prometido. Observou que o reflexo lhe mostrava um sorriso imperceptível, o que lhe encorajou a partir para o segundo. E a única coisa que sentiu foram exatos três minutos de cócegas na barriga. Ficou feliz com aquilo, pois sempre amou sentir cócegas na barriga, mas percebeu, que depois das cócegas, o que vinha era um vazio, e de vazios, já lhe bastavam aqueles que enxergava alguns dias, quando acordava no meio da noite, e ao acender a luz para ver se ela ainda absurdamente existia, o espelho lhe devolvia um par de olhos vazios. Arrepiou-se por um instante, mas viu que naquele momento o que via eram dois olhos imensos, capazes de engoli-la. Decidiu então manter o segundo em algum canto, para que nesses momentos de frieza, quando não temia seus próprios pensamentos, se lembrasse dele e por três minutos se aquecesse com as cócegas na barriga. E afinal pensou no último, que numa tarde escura, talvez a tarde mais escura que ela já viveu, amarrou os sapatos sujos e lhe disse que não tinha mais coragem de contaminar o mundo colorido dela com suas aflições em preto e branco. Nesse momento ela evitou o espelho e tentou acordar, mas percebeu que seu sonho era real demais, e em sonhos reais não existe o despertar. E chegou a conclusão que do terceiro, o que poderia fazer era aprender a não se contaminar tanto pelo caos das cores para em alguns momentos assumir e amar o que lhe fosse preto e branco, por mais que aquele que lhe mostrara o preto e branco nunca mais voltasse. Olhando então novamente para o espelho, viu que as libélulas violetas começavam a se dispersar e que já estava despida dos três e sentiu que era hora de colocar seu vestido de baile. Estava pronta. Tinha um encontro consigo mesma.

*nian.pissolati.

segunda-feira, abril 17, 2006

O nome disso

Um vocábulo que foge do meu repertório. Na mala aberta e revirada, pedaços de sensações perdem os nomes e vestem outros para o meu esquecer.

O apelido do comum. A talidade do prosaico que me alfineta, como por uma brincadeira de mau-gosto, em busca de um sentido verdadeiramente relevante.

Como pode a aparência de algo que não me lembro mais e que significa algo tão costumeiro, quase dominical, se apossar de vários minutos dos meus recentes dias?

Eis o contraponto: o nome que escapa do seu dono, a coisa mais simples das coisas mais simples, que agora, escapa da bagagem empoeirada em busca de uma lembrança que, quando lembrada, se lembrada for, espera-se saciar a agonia sem nome que me faz ranger os dentes.

Tal léxico quer saltar alto da minha boca sugerindo um inacabado “ver...”. Tento invocar o que falta, mas parece-me andar por longe bastante desta mala aberta esquecida.

Curioso, eu diria. “Ver...” . A sugestão de um olhar perdido e inacabado. Um pedaço de palavra tão perto, assim como uma mão que alcança a mala entreaberta que se arrasta, deixando pelo caminho resto de coisas.

Um pedaço aqui, uma peça acolá. Algumas letras atrás, esquecidas num caminho, enredadas por um ambiente tão ver...

Como é mesmo o nome disso?


Lucas dos Anjos

domingo, abril 09, 2006

cinza

.e ele pensou que sua pequenez não cabia na grandeza daquele mundo.

sábado, abril 01, 2006

Inacabado

, e diante de todo o infinito que cabe em seus olhos seria demasiado arriscado eu tentar te explicar meu mundo. Perdido em pequenezas pessoais seria grande a viagem para te conduzir por caminhos tortos com o perigo do destino não ser lá o que se esperava.

E lhe apresentar tudo que está e é seria loucura, pois o universo que você possui talvez seja muito denso para que você creia no espontâneo-não-justificado. E o que eu consigo lhe projetar é apenas um mínimo indício de tudo o que eu queria ser, que eu poderia ser, mas...

Poderia falar-te tudo ao pé do ouvido, em meio às sombras daqueles que se encontram neste prolongado ínterim. Mas é tão clara a imagem falsa que estas palavras lhe produziriam que a minha auto-punição se torna justificável. Mesmo crendo que na realidade isso tudo seja apenas mais um dos tantos escudos de que agora começo a me munir, diante de olhos que vêem além, prevendo já uma seqüência de ações que podem ser cortadas pela raiz.

O triste é saber que você nunca irá ouvi-las, porque me expor à sua não-querência seria uma queda muita alta. Não que esta queda seja ligada diretamente a você, mas antes a tudo aquilo que acredito, mesmo sendo minhas crenças não tão confiáveis.

Sabe o que é?

É que eu, inadvertidamente,

*nian.pissolati.

quinta-feira, março 23, 2006

O pó responde

Nasci amarrado a esta pedra como muitos outros empilhados ao meu lado.
Repeti como um espelho as fissuras que me foram dadas
em lições diárias de tédio a favor do prosperar.

Todavia, como o pó era o meu caminho prometido
a ele retornei e os dogmas, apreendidos outrora, comigo,
como se fossem também amarrados a mim, se multiplicaram e se perderam
com a mesma força ao primeiro sopro do vento.

De certo que agora, em muitos pedaços observo aquelas palestras que ainda seguem sem mim.
Múltiplo, esvaído, desaprendo solto no ar as fórmulas do parar.

Triste é o fim porque não tenho mais lugar.
Em plural sou vapor,
sou poeira pronta a esperar.


Lucas dos Anjos

sábado, março 04, 2006

Pequenos passos

Por enquanto não vamos nos prender às flores
Ainda há muita umidade em nossos poros para que venham outros odores.
Além do mais, suas belezas são por demais complexas
Para que possamos nos arriscar a compreendê-las tão cedo.

Também não cantemos tantas poesias,
se ainda nem compreendemos um ponto final.
Há, lá fora, um mundo de pontos finais.
E seria muito triste nos precipitarmos a eles.

Vamos nos permitir antes a árida rua
Que por debaixo de nossos pés
Guarda uma infinitude multicolor
- que os tolos dizem incomunicável

Vamos primeiro esperar a derradeira chuva que não cai.
Vivamos a eminência.
Imersos na gravidade aguda da chuva que não cai.
A dor aflita da espera.

Vivamos a eminência
e a dor aflita da espera.

*nian.pissolati.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

intransponível

Subindo por fios
Rasgando tudo que não seja devidamente volátil

Submerso em aspirações
Inspirando certezas
Vomitando estilhaços de verdades dadas

Contrariando o obvio
Pelo simples fato de ser humilde
E querer

Vangloriando o inesperado
Mesmo sabendo que dele
Não se pode esperar tanto assim

E o passar dos dias
Que só fazem calor
O calor monótono e incauto dos desajustados
Que ao menor sinal de leveza se desfazem em lágrimas

Não se pode crer tanto em gritos
Mas por enquanto
Eles são algo,
Mesmo sem transformação.

*nian.pissolati

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Passos largos

Posto que cada passo passeia em busca de um não mais passear
E que cada alinhavada dada ao tempo procura o não mais procurar
É que me lanço ao não mais lançar.

Sublinhada tal essência menos essencial que as outras
Percebido o fim inato de tudo o que se percebe
É que admito o admitir

Que cada passo dado alinhava os pés de quem passeia.


Lucas dos Anjos

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Entremeios

Minha aflição tateia o marasmo,
flerta com a calmaria.
Meu flagelo grita aos surdos
com as mãos amarradas nas costas.

Esse lugar do meio, da passagem
é também a morada dos atropelamentos
(em baixa velocidade)

Todo esse território, o meio, ambiguamente
me consome em banho maria

quente

calmo

insuportávelmente lento

Ah, esse calor que me congela
Ah, esse meio do caminho
Ah, esse médio que se agrava e se aguda

Paciência.


Lucas dos Anjos