quarta-feira, dezembro 14, 2005

mentira

Tenho pensado em pedaços que não se regeneram! Pedaços que são pedaços pra sempre. Não estou falando de algum preceito da ciência, nem coisa parecida. Falo de mim e agora só de mim! Esse eu pedaço, esse eu solto... Coisas que me batem à cabeça quando fumo um cigarro, ou quando dirijo meio sem rumo à espera de uma buzina... tempo gasto para pensar em pedaços.
Pensar em pedaços é o que eu mais faço. Falo agora de pensamentos fragmentados, recortes de memórias e sentimentos. Coisas perdidas em gavetas, gavetas perdidas no meu quarto...
Coisas perdidas também me interessam muito, muito mais que acha-las. Isto, talvez pelo meu hábito de perder muito mais do que achar. Perco de tudo. Perco coisas que me interessam, objetos, eventos, números, datas. Mas tenho uma coisa que gosto de perder da mesma forma com a qual gosto de achar. Tomei gosto em perder pessoas. Elas aparecem, sugam e são sugadas e desaparecem. Mas não desaparecem como pó, elas desaparecem porque têm que desaparecer, pois o que lhes é oferecido é somente a chance de desaparecer. Elas não têm a chance de escolher entre coisa ou outra.
Eu, na verdade, não acredito que isso seja uma coisa que as deixe irritadas. Talvez instigadas. Mas não bravas. Porque elas não me perdem. Elas não podem perder algo que não têm, tampouco algo que nem conhecem. Não há afeto (não estou falando de afeto apesar de falar de relações). Falo quase a mesma coisa que "pessoas se experimentando e não gostando ou não tendo chance de gostar". O assunto é desencontros.
Ando sempre de peito aberto esperando por mais um desencontro. Chego a desejá-lo. Peço para que venha confirmar tal fracasso. Não pense que eu sou um coitado rejeitado. Se estiver pensando isso você está muito enganado. Apesar de achar que isso não faz parte do universo das minhas escolhas, é só algo que acontece sem tem efeito algum. Efeito sentimental, quero dizer. Configura mais um número, uma quantia sem sentido. Sem sentido e sem efeito. É quase nada, um nulo. São pessoas imitando coisas que andam. Elas se vão.
Essa é a diferença. Elas se vão e eu fico somando e subtraindo e pensando no que acontece. De uns tempos pra cá isso me faz pensar. Não nas pessoas/coisas que vão, mas na pessoa/coisa que fica. Procuro porquês. O que teria de muito errado ou de muito certo comigo?
Ando sozinho e esse é meu status permanente. Aprendi a ser assim, a gostar de mim assim. Não me dói ficar sozinho. Além do mais, sozinho. nunca fui de ficar se levarmos a palavra ao pé da letra. Sempre tem alguém ou uma coisa comigo...
Eu não sou inimigo do apego, nem da companhia, nunca desejei isso, pelo contrário. Gostaria de encontrar uma pessoa ou uma coisa que me despertasse uma vontade com mais de sete dias. Uma vontade irritante de estar presente. De comemorar sem motivo. De ficar sozinho sabendo que está junto, confortável.
Essa é a beleza que procuro em vão. Mas existe outro conforto: o de saber. Saber que não há, não existe, não é possível. Com isso resolvo grande parte dos meus problemas. É só se apegar às certezas. Certeza de que pedaço é pra sempre pedaço o que faz dele uma parte inteira.


Lucas dos Anjos

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