quarta-feira, dezembro 14, 2005

Nem ave, nem peixe, nem arenque vermelho.

Assim como todos os outros ela também estava perdida. Por trás daqueles óculos, dentro daqueles pequeninos olhos sinceros, alguma coisa não se encaixava. Ali, do outro lado das lentes, um mundo tão grande, tão complexo e ao mesmo tempo tão distante.

E seu sorriso tinha um constante pesar. Sua presença marcava um grande sentimento de falta. Mas ninguém sabia ao certo o que era essa ausência. Nem mesmo ela. E vivia seus dias na esperança de algo acontecer. Que fosse um terremoto, uma chuva torrencial ou um simples bater de asas de uma borboleta, que lhe tocasse e a fizesse ver o mundo com outros olhos.

Ela deveria mudar? Ou era o mundo que perdia o sentido? Mas era necessário um sentido? Dúvidas. A catástrofe da rotina, do cotidiano, a invadia e ela já não sabia o que fazer. Tinha amigos, é claro, mas eles também pareciam estar submersos neste cinza constante das noites mal dormidas, daquelas tardes intermináveis.

Mas mal sabia ela que sua beleza era grande demais. Que o seu gostar de pequenas coisas, como dançar loucamente uma boa música era algo maravilhoso. Seu mundo, tantas vezes incompreendido era bom. E talvez fosse um dos poucos que realmente valessem a pena serem vividos.

E, na verdade, de todos, ela era a melhor. E apesar de não saber, era a que mais merecia a alegria. Pelas suas crenças, seus medos, desejos e incertezas. Seus olhos perdidos nas ruas, seus momentos de silêncio, as tantas conversas em que escutava muito mais que falava. Isso tudo já lhe valia o que há de melhor. E talvez ela não compreendia, mas seu destino era ser feliz. Não importava as dificuldades e os problemas que ainda viveria, porque seu destino, realmente, era ser feliz.

*npl

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