terça-feira, dezembro 20, 2005

Uma história sobre o fim entre camas e covas

Por entre meio-tons de cinza e verde mastigávamos elogios uns dos outros por um mês ou mais. Por algum tempo me deitava e jogava um jogo com meus desejos e a realidade. Te queria ao ritmo do tempo. Quanto mais, mais. Você me queira do seu jeito. Quanto mais, nada.

Entre encontros e desencontros, entre telefonemas sem assunto, me jogava e cavava minha cova funda como quem fazia a própria cama para dormir sem hora marcada pra acordar. Eu sabia. Eu te amava. Eu te perdia.

Entre cansaço e saudade nos encontramos. Eu, como sempre, abanando o rabo, fiel como um mascote, tremia de felicidade ao te ver mais uma vez. Você, como sempre, nada. Um nada entre um elogio ou outro, entre um beijinho ou outro. Um morno que eu aprendi a amar. Nesse dia você me olhou triste, também como quem fazia a cama para me deitar sem saber que eu já a havia feito, e me disse um caminhão de palavras tristes que eu nem ouvia, segurando a sua mão, correndo seus braços com as minhas, te decorando pra levar comigo.

Entre uma palavra e outra arriscava te olhar nos olhos e percebia que não eram como antes. Tentava agora te escutar, como se precisasse, como se eu não soubesse o assunto. Percebi que também não era boa com as palavras e que se complicava ao tentar achar uma explicação deglutível para aquela situação. Te abraçava como quem não entendia. Eu não entendia de fato. E você não explicava de fato.

Entre palavras úmidas e cigarros, assumi que me oferecia o fim. Nesse momento te ofereci um novo começo em contraproposta já me inclinando para deitar naquela cama feita à duas mãos. Eu estava certo. Disse “que pena” com os olhos molhados. Te dei um ultimo abraço e percebi de relance o que estava estampado em sua camisa parda como eu:

“Por que você não me ama?”

Me levantei a procura daquela cama/cova prometida que era minha desde o início. Eu sabia.


Lucas dos Anjos

7 comentários:

Letícia disse...

Gosto muito, viu?
ó vida, ó céus, ó azar...

Anônimo disse...

Muito foda!
Eu fico só com essas 5 palavrinhas
"...te decorando pra levar comigo."
Poderia pegar qualquer outra passagem, mas por razões pessoais, fico com essa.
abração
rafael prosdocimi

Anônimo disse...

ai ai...tbm fico com o trecho "...te decorando pra levar comigo". Muito, muito foda!Bjo
Mel

Anônimo disse...

"Quanto mais, mais. (...) Quanto mais, nada".
Clap, clap, clap. Pra mim, a cereja do bolo.
Costoli

Anônimo disse...

Nó!

Anônimo disse...

"Quanto mais, mais. (...) Quanto mais, nada".
Essa é a frase!Momento certo pra ouvi-la
...
Puxa vida....

diego belo disse...

não me canso de imaginar esse eu abanando o rabo e fucinhando o sexo da amada.